15/07/2007

1949 a 1954


Nasci na MATERNIDADE DE JÚLIO DINIS, sita no Largo da Maternidade, freguesia de Massarelos, concelho e distrito do Porto. Viviam meus pais na Rua do Cristelo, também freguesia de Massarelos, uma rua que parte da Calçada de Sobre-o-Douro e termina no Largo do Adro.

Em 1949, ano em que nasci, a Rua do Cristelo era a nossa creche, a pré-escola, o infantário e o ATL, tudo num só espaço que era e é, a rua estreita onde viviam meus pais, avós paternos, tios e primos. Por isso a rua era, naquela zona onde está o nicho do Senhor dos Aflitos, habitada quase só pela nossa família e mais meia dúzia de famílias amigas.

A garotada brincava na rua, fazia as suas necessidades na rua, no Verão muitos vinham fazer as suas assadas para a rua ou para a beira-rio, nos bancos de pedra que ainda hoje lá estão. As ruas são estreitas e as casas muito pequenas e algumas nem casa de banho tinham.

Com casas pequenas e uma rua habitada por familiares e vizinhos muito amigos, e muito pouco movimento de automóveis, era natural que a vida dos miúdos como eu, fosse passada na rua. Os estendais de roupa das casas térreas também se colocavam na rua e era à rua que vínhamos encher os cântaros de água, no fontanário na Calçada de Sobre-o-Douro.

A nossa casa ficava ao lado da imagem do Senhor dos Aflitos, na Rua de Cristelo. No último andar do nosso prédio viviam meus tios Francisco e Germana Mota, com os filhos Fernando e Gracinda, mais velhos que eu quatro ou cinco anos. A tia Germana era irmã de minha avó paterna Alina e o Tio Francisco trabalhava numa grande pensão do Porto que ainda hoje existe e se chama Pensão Aviz, na Rua de Entreparedes. Anos mais tarde o Fernando foi trabalhar para a Sociedade Portuense de Drogas e a irmã Gracinda foi viver com o marido, também Francisco, para Chaves.
A porta do lado direito quem olha de frente para a imagem do Senhor dos Aflitos era da casa de meus avós paternos Arnaldo e Alina, de minha tia Maria José e meu primo Mário. Viviam todos no segundo andar esquerdo, que compartilhavam no direito com a família Gavina que mais tarde abandonou a casa, que foi ocupada por minha tia.

No primeiro piso vivia o Fernando (sapateiro) e sua mulher Rosa, com o filho José. O Fernando era um simpático e pachorrento homem, que com a Rosa, uma possante e enérgica mulher faziam um casal curioso e divertido, principalmente quando o Deus Baco fazia as suas incursões pela casa, facto que acontecia com relativa assiduidade, mais ou menos dia sim, dia sim.

Para situarem melhor a Rua de Cristelo, como já dissemos começa na Calçada de Sobre-o-Douro, que por sua vez começa numa das últimas transversais quem desce a Rua da Restauração do lado esquerdo, aquela rua que vem do Jardim da Cordoaria, onde fica a Torre dos Clérigos e o Hospital Geral de Santo António.

Quem for à torre dos jardins do Palácio de Cristal e olhar em direcção à Ponte da Arrábida, vai encontrar no horizonte a torre da Igreja de Massarelos, vê um pouco da Restauração e maravilha-se com a paisagem do Rio Douro e cidade de Gaia. Massarelos fica aos pés do Palácio de Cristal, mas, como diria minha avó, tem pernas para lhe chegar às bentas (como se diz no Porto).

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