Depois da primeira experiência com conjuntos musicais, apareceu a oportunidade de arranjar contrato com a empresa do Cine Teatro Vale Formoso, cujo gerente era o nosso amigo e senhor Mota.
Tivemos que nos profissionalizar, arranjei novos e bons músicos e demos novo nome ao agrupamento que passou a designar-se por THE STRANGER BOYS. Para além de tocar no Vale Formoso no intervalo dos filmes, o conjunto passou a ser presença habitual no programa FESTIVAL que aos domingos de manhã enchiam o Vale Formoso. Este programa, apresentado pelo falecido Fernando Gonçalves, era transmitido em directo pelos então Emissores do Norte Reunidos. Mais tarde, este programa passou para o Teatro Sã da Bandeira e deu lugar à Rádio Festival.
Por este programa musical passaram todos os grandes artistas portugueses da altura, como cabeças de cartaz. Também foi o Festival que lançou dezenas de artistas como Lenita Gentil, Maria da Fé, Florência ou Maria de Fátima "O Passarinho do Festival".
Conheci dezenas, talvez mesmo centenas de artistas, nos cinco anos que dediquei à música. Foi nesta altura que conheci MARIA DO ROSÁRIO que viria a reencontrar nas noites fadistas de Ílhavo. Corremos todos os locais onde queriam bailarico ao som da nossa música. Estivemos mais de um ano a "dar baile" num clube das Escadas dos Guindais que dava pelo nome de ROSAS DA SÉ, do nosso amigo Moura.
As Confecções Mico tinham um administrador que nos apoiava. Por isso, foi fácil convencer Rafael Machado a ceder-nos um prédio devoluto da empresa, que ficava na Praça Exército Libertador número 4, ao Carvalhido, para ensaios do conjunto. Até aí, os ensaios decorriam dentro da própria fábrica, depois das horas de trabalho e ao fim de semana.
A mulher de Rafael Machado e também ela admnistradora da Mico, era amiga de Pedro Osório que eu bem conhecia porque eu vivia na Rua Anselmo Braancamp e ele vivia umas dezenas de metros mais abaixo, na Rua Firmeza. Também conhecia muito bem seu pai, o senhor Osório que trabalhava na casa bancária Sousa Cruz, na Praça da Liberdade, mesmo ao lado do extinto e célebre café Astória.
Eu tinha um grande amigo no Sousa Cruz, que era o Fernando Amorim, a quem eu ajudava nalgumas tarefas do banco e, por isso mesmo, convivi com a maioria dos empregados daquela casa. O senhor Osório, era quem fechava o banco ao fim da tarde.
Como Pedro Osório tinha um conjunto musical de renome, foi, a pedido da Maria do Rosário, assistir a um dos nossos ensaios e logo ali prometeu arranjar-nos trabalho. Assim foi, tocamos com eles na Ordem dos Engenheiros numa dessas ocasiões.
No final de 1967 a MICO estava a ir à falência e o seu vendedor Fernando Ascenção Resende Rodrigues, em conjunto com o mestre alfaiate Miguel da Silva Lima resolveram montar uma nova fábrica de confecções a que deram o nome de Confecções Marquês. Com algum capital entrou o genro de Miguel Lima, Gil dos Santos Frederico.
Convidaram-me e eu acompanhei-os na nova etapa da minha vida. Fui para chefe de escritório e a música continuou.
A maioria da nova fábrica foi montada com equipamentos adquiridos a prestações na firma Alfredo Barros & Irmão. O negócio envolvia letras que eram reformadas todos os meses com amortização (a prestação) e novas letras. Um dia, os irmãos Barros, resolveram ir recolher as amortizações e as novas letras, como sempre faziam. Só que, as amortizações e as novas letras deram entrada noutros bancos. Quer dizer, os lesados e foram centenas, passaram a dever as novas letras e as antigas. Resumindo, ficamos a dever o dobro. Eles foram presos mas provocaram a falência de dezenas de fábricas. Foi até àquela altura o maior roubo financeiro de sempre.
Assim, as Confecções Marquês, sitas na Rua de Costa Cabral, faliram ao fim de dois curtos anos de existência. Acabei com o conjunto e dediquei-me às escritas particulares, até porque estava a um ano de ingressar no serviço militar e ninguém me dava trabalho por via disso mesmo.
15/11/2009
1964
Já vivia na Rua das Flôres, no edifício da Sociedade Comercial de Malhas e Miudezas, grande armazém de malhas e miudezas muito conhecido em todo o continente e ilhas simplesmente pelo nome "Sociedade". Vivia no segundo andar e trabalhava no rés-do-chão, depois de ter trabalhado no escritório de advogados que mais tarde passou a ser a nossa casa. Ainda hoje vive lá meu pai com a sua nova mulher, uma vez que voltou a casar após a morte de minha mãe em 13 de Julho de 1986.
Os patrões da Sociedade eram o Henrique e o João Barbosa. O Henrique gostava muito de mim e era muito exigente. Por isso é que aprendi muito com ele e com colegas muito mais velhos como os senhores João, Ferreira (beganini, porque andava sempre a mascar pastilhas daquela marca), Paiva, Valério, Pena, Rosas, Zé Maria, José Leão e muitos outros, uma vez que o estabelecimento tinhas dezenas de empregados e meia-dúzia de viajantes.
Estive apenas dois anos ao serviço da Sociedade mas foram dois anos de grande escola. Trabalhava das 9 às 19 horas e, às 19 e 5 minutos, entrava na Escola Comercial Oliveira Martins na sua secção da Rua das Taipas, onde frequentei o curso geral do comércio. Tinha aulas até às 23 horas e imensas disciplinas.
Em 1966 saí da Sociedade e fui trabalhar, mais ou menos meio ano, para a Higifarma na Rua de Santa Catarina. Era uma empresa de produtos de higiene e farmácia e aí, tive o melhor patrão de toda a minha vida de empregado - Carlos Alberto Raposo de Melo. Era tão bom este senhor, que pagava bem e a horas, era educadíssimo, muito culto, elegantíssimo, bondoso e passava a vida a dar produtos aos empregados e amigos.
Ainda em 1966 arranjei novo emprego, sempre a melhorar o vencimento e o lugar e, passei a trabalhar na MICO-Manufactura Industrial de Confecções Mico, SARL, como se designavam na altura as sociedades anónimas. SARL queria dizer sociedade anónima de responsabilidade limitada.
A Mico empregava mais de 100 trabalhadores, na sua maioria mulheres e dedicava-se à confecção de fatos de trabalho, gabardinas, impermeáveis para a chuva (vulgo tapa-chuvas)etc. Foi na Mico que conheci Belmiro de Azevedo, na altura um normal engenheiro da SONAE para onde fornecíamos os fatos de trabalho. Também nesta fábrica se confeccionavam fardas para o exército, trabalho que fazíamos em sub-contratação da firma Rodrigues & Rodrigues de Lisboa.
Foi a MICO que me proporcionou o conhecimento com um dos meus grandes amigos de sempre o Pedro Almeida, que ali exercia as funções de afinador de máquinas. Continuamos grandes amigos até hoje e continuaremos até sempre.
Se nos advogados atendia as pessoas, digitava requerimentos à máquina (Underwod ou Remington), na Sociedade atendia ao balcão e estava na caixa, na Higifarma estava no armazém e abastecia as farmácias e perfumarias, na Mico fui para o escritório para a área de processamento de salários, gestão de stocks e mais tarde, gestão e controle de produção e do pessoal. O curso comercial e a prática anterior deram-me bagagem suficiente para bem novo, 16, 17 anos, estar com tão grande responsabilidade na empresa. E ganhava bem na altura, 2 mil escudos por mês e já 14 meses de ordenado, embora não fosse obrigatório.
Só para termo de comparação, nessa época, uma viagem de eléctrico no Porto, 1 zona custava 8 tostões ou 80 centavos e a gasolina custava 5 escudos e oitenta o litro. A super (hoje 98) custava 6 escudos e trinta centavos (hoje 3 cêntimos e 15)
Ainda em 1966, por influência de meu amigo Delfim, que morava na Rua da Vitória e tinha uma viola acústica, electrificada e com amplificador, resolvi influenciar outro amigo que trabalhava nos armazéns da Mico, Henrique Magalhães e juntando o Delfim, ao meu primo Mário que andava a aprender a tocar guitarra, com o Jervel que tinha a mania (como eu) que sabia tocar bateria e cantar, lá formei o meu primeiro conjunto musical.
Eu e o Henrique Magalhães fomos à casa Ritmo, na Rua 31 de Janeiro no Porto, onde trabalhava o meu amigo Miranda (que viveu na pensão de minha madrinha na Rua das Flôres, mais de 40 anos e lá morreu) e, falando com o dono da loja, Henrique Pinto Leite, comprei duas guitarras eléctricas, bateria completa, amplificadores de instrumentos e de vozes, colunas e microfones. Assim nasceram os TOMAOKS. O que queria dizer? Não sei, mas era coisa de índios.
Os patrões da Sociedade eram o Henrique e o João Barbosa. O Henrique gostava muito de mim e era muito exigente. Por isso é que aprendi muito com ele e com colegas muito mais velhos como os senhores João, Ferreira (beganini, porque andava sempre a mascar pastilhas daquela marca), Paiva, Valério, Pena, Rosas, Zé Maria, José Leão e muitos outros, uma vez que o estabelecimento tinhas dezenas de empregados e meia-dúzia de viajantes.
Estive apenas dois anos ao serviço da Sociedade mas foram dois anos de grande escola. Trabalhava das 9 às 19 horas e, às 19 e 5 minutos, entrava na Escola Comercial Oliveira Martins na sua secção da Rua das Taipas, onde frequentei o curso geral do comércio. Tinha aulas até às 23 horas e imensas disciplinas.
Em 1966 saí da Sociedade e fui trabalhar, mais ou menos meio ano, para a Higifarma na Rua de Santa Catarina. Era uma empresa de produtos de higiene e farmácia e aí, tive o melhor patrão de toda a minha vida de empregado - Carlos Alberto Raposo de Melo. Era tão bom este senhor, que pagava bem e a horas, era educadíssimo, muito culto, elegantíssimo, bondoso e passava a vida a dar produtos aos empregados e amigos.
Ainda em 1966 arranjei novo emprego, sempre a melhorar o vencimento e o lugar e, passei a trabalhar na MICO-Manufactura Industrial de Confecções Mico, SARL, como se designavam na altura as sociedades anónimas. SARL queria dizer sociedade anónima de responsabilidade limitada.
A Mico empregava mais de 100 trabalhadores, na sua maioria mulheres e dedicava-se à confecção de fatos de trabalho, gabardinas, impermeáveis para a chuva (vulgo tapa-chuvas)etc. Foi na Mico que conheci Belmiro de Azevedo, na altura um normal engenheiro da SONAE para onde fornecíamos os fatos de trabalho. Também nesta fábrica se confeccionavam fardas para o exército, trabalho que fazíamos em sub-contratação da firma Rodrigues & Rodrigues de Lisboa.
Foi a MICO que me proporcionou o conhecimento com um dos meus grandes amigos de sempre o Pedro Almeida, que ali exercia as funções de afinador de máquinas. Continuamos grandes amigos até hoje e continuaremos até sempre.
Se nos advogados atendia as pessoas, digitava requerimentos à máquina (Underwod ou Remington), na Sociedade atendia ao balcão e estava na caixa, na Higifarma estava no armazém e abastecia as farmácias e perfumarias, na Mico fui para o escritório para a área de processamento de salários, gestão de stocks e mais tarde, gestão e controle de produção e do pessoal. O curso comercial e a prática anterior deram-me bagagem suficiente para bem novo, 16, 17 anos, estar com tão grande responsabilidade na empresa. E ganhava bem na altura, 2 mil escudos por mês e já 14 meses de ordenado, embora não fosse obrigatório.
Só para termo de comparação, nessa época, uma viagem de eléctrico no Porto, 1 zona custava 8 tostões ou 80 centavos e a gasolina custava 5 escudos e oitenta o litro. A super (hoje 98) custava 6 escudos e trinta centavos (hoje 3 cêntimos e 15)
Ainda em 1966, por influência de meu amigo Delfim, que morava na Rua da Vitória e tinha uma viola acústica, electrificada e com amplificador, resolvi influenciar outro amigo que trabalhava nos armazéns da Mico, Henrique Magalhães e juntando o Delfim, ao meu primo Mário que andava a aprender a tocar guitarra, com o Jervel que tinha a mania (como eu) que sabia tocar bateria e cantar, lá formei o meu primeiro conjunto musical.
Eu e o Henrique Magalhães fomos à casa Ritmo, na Rua 31 de Janeiro no Porto, onde trabalhava o meu amigo Miranda (que viveu na pensão de minha madrinha na Rua das Flôres, mais de 40 anos e lá morreu) e, falando com o dono da loja, Henrique Pinto Leite, comprei duas guitarras eléctricas, bateria completa, amplificadores de instrumentos e de vozes, colunas e microfones. Assim nasceram os TOMAOKS. O que queria dizer? Não sei, mas era coisa de índios.
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