Como já referi, o último ano da escola primária, hoje 4º ano do ensino básico, foi vivido na freguesia do Bonfim, mais exatamente na Rua Anselmo Braancamp. Tinha como vizinha, entre muitas outras, a D. Justina, uma excelente modista que trabalhava para as cantadeiras e mulheres da vida artística e da noite do Porto, que trabalhavam nas casas de espectáculos e nas boites Candeia e Tamariz.
Uma das suas clientes, talvez a mais famosa, era Maria Clara que vivia na mesma rua Anselmo Braancamp uns números mais abaixo. A D. Justina quando tinha os trabalhos prontos pedia-me para os ir entregar e as senhoras davam-me uma gorgetazita para os rebuçados. Mas a D. Maria Clara, nome artístico de Maria da Conceição Ferreira (falecida a 1 setembro 2009) que tinha um único filho, era mais generosa e de vez em quando oferecia-me um lanche para eu fazer companhia a seu filho Julinho, com quem brinquei algumas vezes. O Julinho, que tem a minha idade, que hoje é bem conhecido dos portugueses, é o Júlio Machado Vaz, que foi professor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e que, para além de falar muito na TV do seu Benfica, é chamado ao pequeno ecrã sempre que o tema é sexologia. Já teve inclusivamente uma programa seu sobre este tema.
Ao fundo da minha rua do Anselmo, fica a Rua da Firmeza e lá vivia naquela altura, na década de 60, o senhor Osório, que conheci na casa bancária Sousa Cruz que ficava ao lado do famoso café Astória, ali em frente à estação de São Bento. Este senhor Osório tinha um filho que tocava umas coisas lá em casa e mais tarde fez parte de vários agrupamentos musicais, tornando-se no que é hoje conhecido por maestro Pedro Osório (falecido em 5 janeiro 2012).
Após a saída da escola primária, em Junho de 1959, fui trabalhar para um escritório de advogados na Rua da Flores. Tavares da Conceição, Sérgio de Pinho e Henrique Souto eram os advogados, para além de Cesário Bonito, solicitador, todos eles foram os meus primeiros patrões e onde aprendi a escrever à máquina, ia aos tribunais e repartições públicas, prisões e organismos de polícia.
Para ganhar mais uns tostões e porque o trabalho me fascinava, passava algum tempo com o sapateiro que tinha a sua "barraquinha" à entrada da "ilha" onde eu vivia. Ali aprendi algumas coisinhas do ofício e ia levar os trabalhos aos fregueses que me gratificavam.
Para quem não sabe, havia no Porto uns aglomerados habitacionais (ainda existem alguns) a que davam o nome de ilhas. A "minha ilha" era um conjunto de meia dúzia de casinhas, independentes umas das outras, com res-do-chão e um quartinho no sótão. Eram casinhas muito pequenas, mas independentes.
Depois do escritório de advocacia, que ficava no 2º andar, fui tabalhar para o rés-do-chão do mesmo prédio, para um grande armazém de comércio que dava pelo nome de Sociedade Comercial de Malhas e Miudezas, onde aprendi muito do que ainda hoje sei. Lá conheci muita gente, especialmente feirantes e vendedores ambulantes, uma vez que a firma era de venda por grosso. Um dos fregueses que lá conheci e atendi chamava-se Joaquim Ferreira Torres irmão do já célebre Avelino, do Marco, ou de Amarante. Outro dos clientes da Sociedade era o senhor Artur Pinho que já conhecia do ano de 1958, quando vivi em Vagos.
Na Sociedade como era simplesmente chamada, trabalhei muito mas também aprendi muito do que hoje sei. A par deste trabalho, aos 14 anos fui estudar de noite para o curso geral do comércio da Escola Oliveira Martins, que ficava na Rua das Taipas e na Rua do Sol.
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